O que dizem sobre nós

Uma ordem, 4 funções e demasiados comandos

Vou ser pai. Aos 36 anos, vou ter a maior responsabilidade que um ser humano pode ter: “Criar um filho”. Em segundo lugar na lista? “Ver todos os filmes de Quentin Tarantino.” Aliás, se estiver a ler este texto e nunca viu o Pulp Fiction, o Cães Danados e os 2 volumes da saga Kill Bill, eu peço-lhe que pare imediatamente de ler isto e vá ver estes filmes. Peço, não. Eu estou a mandar. É uma ordem. E agora que vou ser pai, eu posso dar ordens. E atenção que depois vou fazer perguntas.
Todos pensamos em determinada altura da nossa vida “Como será isso de ser pai?”, mas a verdade é que nunca pensamos na forma como vamos saber a noticia da nossa paternidade. Eu soube quando cheguei a casa após um dia de trabalho. Deparei-me com a mãe do meu filho sentada no sofá da sala a olhar para a televisão desligada. Primeira coisa que pensei? Ela não sabe do comando da tv. Nada de novo. Há comandos para a Tv, para a box, para a coluna de som, para a aparelhagem, para o ar condicionado, há demasiados comandos nos nossos domicílios, senhores! Mas a expressão dela não era de quem não sabia do paradeiro de um mero controlo remoto. Perguntei-lhe “O que se passa?…”. Ela olhou para mim, sorriu e disse “Parece que neste Natal, vamos ser 3 cá em casa”. O que pensei desta vez? “Vamos ter a companhia do irmão dela na quadra festiva.”. Sim, sou uma besta.
Quem já abraçou a paternidade, sabe qual a sensação de receber esta noticia. Para quem nunca passou por isto, eu vou tentar explicar: É como ganhar o Euromilhões, mas sem a parte do Estado ficar com parte do prémio. E ainda bem. Seria algo desagradável chegar a casa vindo da maternidade e perceber que, no caminho, tinha ficado sem 20% do meu filho.
Eu não sei o que ele vai ser no futuro. E nem quero pensar nisso. Mas tenho perfeita noção do que ele vai ser no imediato: uma máquina. Uma máquina com 4 funções. Chorar, sujar fraldas, mamar e Varoma. E quando ele chorar, lá estarei para o consolar. Quando ele sujar fraldas, lá estarei para as mudar. E quando ele quiser mamar, lá estarei para ajudar. E para dizer um olá às volumptuosas novas amigas da mamã.
Vasco Palmeirim