O que dizem sobre nós

Não mexer, por favor. A gerência agradece

Não há outra forma de dizer isto: O português gosta de tocar. Se gosta de alguém, quer tocar. E eu percebi isso na pele. Aliás, até esbocei uma teoria capaz de deixar orgulhoso todo e qualquer professor de matemática que tive ao longo da minha vida académica.

Por acaso, olhando para trás, só me lembro de 2 “stores” de Matemática: um de barbas no 9º ano que não nos deixava usar corrector porque dizia que podíamos ter cábulas na tinta e uma professora no meu 5º ano que recordo pelo facto de ser gira todos os dias.

Mas voltemos à minha teoria: Há uma relação directamente proporcional entre CPP e MNP – sendo CPP o “Carinho Pela Pessoa” e MNP o “Mexer na Pessoa”. Aumenta o CPP? Então aumenta o MNP. Felizmente para mim, nos últimos anos houve muita gente que fez questão de exercer em mim o MNP. “Olha, é o do Sabe ou Não Sabe! Gosto tanto de si! Ai que giro! [Pimba! Aqui já levei um abraço, 2 beijos e já me apertaram as bochechas] É mesmo como na televisão!!! [Aqui, umas chapadinhas de amor] Oh Zé! Anda cá! Olha quem é ele!!!! [Chega o Zé. Zé olha. Zé reconhece-me] xiiii! É o Paulo Meirinho! [Zé falha no nome mas dá um calduço na mesma e duas a três valentes palmadas no lombo].

Isto acontece muitas vezes. E quanto mais a norte do país, mais comum é. Uma vez, no Porto, saí de um almoço num dia de gravações do Sabe ou Não Sabe e levei uma pancada no estômago de um senhor que estava tão contente por me ver [“Estás cá, Vasco??? PIMBA!] que nem sei como é que as tripas acabadas de ingerir se aguentaram no bucho. Enfim. Confesso que hoje em dia não me importo. Ao inicio era estranho, sim, mas já me habituei. É quase um medidor de popularidade. Faz parte e até acho graça. Isto quando acontece comigo. Repito. Comigo.

Outra coisa é quando as atenções se viram para o mini-me e querem mexer no meu filho. E atenção! Começo desde já por dizer que tenho consciência que não há qualquer maldade envolvida nesta questão. Eu sei que não há maldade. Mas sabem o que é que não sei? Onde andaram as mãos das pessoas.

Há umas semanas, fui almoçar fora com a mãe do Tomás e um casal amigo e, enquanto a nossa mesa estava a ser preparada, eu estava com o miúdo no carrinho, à porta do restaurante, a fazer tempo. Nisto, reparei que uma senhora estava especada a olhar para mim. Notei que ela estava a tentar ser o mais discreta possível, mas o facto de ela estar a 40 centímetros de mim não ajudou o seu propósito. Olhei para a senhora e sorri. Ela retribuiu o sorriso. Mas não era de mim que ela queria saber.
– É o seu bebé?…
– Sim – disse eu.
– Muitos parabéns!!! – quase gritou a senhora, preparando o terreno para a questão que surgiu logo de seguida – Posso vê-lo???…

Não vi mal nenhum nisso. A senhora era simpática. E respondi, com um sorriso, “Pode, minha senhora!” Destapei a fraldinha que tapava a cara do Tomás e a reacção da senhora foi imediata. Esticou ambos os braços para tocar na cara do miúdo. Foi nessa altura que a senhora ouviu 4 singelas palavras: “Não mexa na criança!!!!!” A surpresa tomou conta da senhora. Ficou em pausa. Braços esticados. A olhar para mim. Não se mexeu durante alguns segundos. Mas, mais importante, não mexeu nele.

Para os futuros papás: Eles andem aí! Os que não se contentam em ver. Os que querem tocar. Os que querem dar beijinhos. Os que acham que a capa do ovo onde está a vossa criança é para ser imediatamente removida porque isso atrapalha e dificulta a vida deles.

Há quem possa estar a ler isto e pensar “Oh Vasco… Não sejas assim…”. Tenho a dizer o seguinte: Ai sou, sou. E se for preciso, sempre que for passear o miúdo, levo comigo daquelas raquetes para as melgas que dão choques e que se compram no chinês. Há de chegar uma altura na vida do Tomás em que ele vai decidir quem é que pode mexer nele. Para já, decido eu.

Estão a ver o Louvre? E a fila de japoneses que se forma só para eles verem a Gioconda? Exacto. Para verem. Sei que não sou nenhum Leonardo da Vinci, mas o Tomás é a minha Mona Lisa.

Vasco Palmeirim