O que dizem sobre nós
O melhor do mundo são as crianças. Até quando fazem cocó
Uma coisa é quando nos avisam. Outra coisa é a constatação que é mesmo verdade: ter um bebé em casa muda muita coisa. Os horários. A (des)arrumação. A banda sonora. A relação com os vizinhos. O número de vezes que se utiliza a máquina de lavar roupa. (A sério. Pobre coitada da máquina que deve estar a pensar “o que foi que eu fiz para me obrigarem a trabalhar tanto, assim de repente? Não deixei a roupa suficientemente branca?! Não centrifuguei suficientemente rápido?!”). E o que também muda são os momentos de gáudio. Passa a festejar-se muita coisa. Festeja-se quando ele sorri. Festeja-se quando ele reage. Festeja-se quando ele reconhece. Festeja-se quando ele adormece. Festeja-se quando ele nos deixa dormir. E festeja-se o cocó.Sim. Aquilo que sempre foi um assunto nunca antes celebrado passa a ser um motivo de festa diário. Uma festa com foguetes e tudo. Cortesia da criança.
Isaac Newton disse que para cada acção, há uma reacção. Não só concordo com esta teoria, como acho que ele estava nitidamente a falar de cocó de bebés e consequente reacção dos pais. Pelo menos aqui em casa, a coisa é mais ou menos assim, em termos de “acção -> reacção”.
Miúdo dá um pum -> Pais gritam “Boa!!!”
Miúdo faz cocó com os 2 pais em casa -> Progenitor que vai mudar a fralda grita ao outro progenitor “Vem cá ver este cocó!”
Miúdo faz cocó só com um dos pais em casa -> Progenitor que não está em casa recebe por mensagem no telemóvel a foto do cocó com a legenda “está com boa cor!”
Isto, atenção, são casos em que o miúdo consegue fazer C.S.A. Cocó Sem Assistência. A criança faz o seu cocó sozinho, sujando toda uma fralda sem intervenção parental. Depois há os casos em que o rapaz tem necessidade de A.L.C. por parte de um dos progenitores. A.L.C. Auxílio para a Libertação do Cocó. Mas até esses casos, que muitas vezes resultam num jacto que sai directo e repentino para cima do progenitor que está a prestar o A.L.C, acabam com um “boa, filho!” acompanhado de uma valente gargalhada e ambiente de festa. E acreditem: eu sei do que falo. E a minha máquina de lavar também.
Cá em casa, felizmente, o miúdo faz cada vez mais C.S.A’s e precisa cada vez menos de A.L.C’s. Por isso, em homenagem a essa cada vez maior independência do jovem Palmeirim, decidi alterar um pouco a letra da cancão Já Sei Namorar, dos Tribalistas.
Já sei defecar.
Já sei sujar a fralda
Que um dos meus pais vai mudar.
Dá vontade de rir.
Se eu esticar as pernas
É mais fácil de sair.
Não tenho paciência para a estimulação
Cânulas e termómetros no meu rabinho, não!
Sou do Pai e da Mãe
Mas não preciso deles
Faço cocó muito bem.
Peço desculpa à Marisa Monte, ao Carlinhos Brown e ao Arnaldo Antunes por ter feito uma versão tão cocó da canção deles.
Vasco Palmeirim