O que dizem sobre nós

Um calhau e uma Bolacha Maria

O facto de trabalhar há alguns anos com a Catarina Furtado faz com que já tenha constatado que eu e a Catarina temos, de facto, várias coisas em comum. Partilhamos genes indianos. Partilhamos o mesmo dentista. E ambos aparentamos ter muito menos idade do que aquela que, na realidade, temos.

A sério, aquela mulher deve ter feito um pacto com Satanás. Ninguém tem aquele aspecto aos 74 anos. (É bem provável que, depois disto , o estimado leitor nunca mais venha a ter notícias minhas. )

Mas a verdade é que também há uma grande diferença entre estes dois “maninhos”, além da óbvia ao nível cromossomático. Quem costuma ver regularmente o The Voice já percebeu, com certeza, que por vezes temos situações de muita emoção. Por exemplo, uma concorrente que não vê a família há anos e que, de repente, é surpreendida com um abraço de sua mãe em pleno palco. Ou então quando um candidato não segue em frente no programa, vendo assim o seu percurso chegar ao fim muito antes do desejado.

Nesses casos, Catarina chora.

E nesses casos, eu não.

Aliás, foi por causa dessa minha falta de lágrimas que ganhei a alcunha de “Coração de calhau”. (Nota mental: Pedir ao ex-Excesso Melão para adaptar esta minha alcunha ao seu sucesso “Coração de Melão”. Será o meu novo toque de telemóvel. “Ai Coração de Calhau… calhau, calhau, calhau…”)

Mas o “Coração de Calhau” mudou.

No outro dia, dei por mim, em casa, a olhar para aquilo que o meu filho estava a fazer… e a sentir uma lágrima a descer pelo meu rosto. Sim. Era mesmo uma lágrima. E o que estava o Tomás a fazer?

A comer uma bolacha.

Sim, o miúdo estava a comer uma bolacha Maria e eu a chorar ao vê-lo. O leitor lembra-se do Clube dos Poetas Mortos, com o Robin Williams? Aquele bolo alimentar na boca do Tomás foi o meu “Oh Captain, My Captain”. O miúdo tinha restos de bolacha nos lábios, no babete, no nariz, no cabelo, em todo o lado. E o pai dele, o que fazia? Limpava? Não. Chorava.

E isto não foi caso único.

Já me voltou a acontecer o mesmo a ver o miúdo a brincar com carrinhos enquanto fazia “vruuum”. A ver o miúdo a apontar para o gato do vizinho enquanto tentava chamar a atenção do bicho, imitando-o, mas fazendo o ladrar de um cão. A ver o miúdo a tentar dar um pontapé para golo, mas a escorregar na bola incrivelmente parada. A ver o miúdo a rir-se à gargalhada enquanto via as filhas de um casal amigo a fazer o pino e a tentar ele próprio fazer.

Fico babado. E orgulhoso.

Não por o meu filho ter capacidades incríveis para a idade que tem. Mas porque o meu filho é simplesmente extraordinário a fazer coisas extraordinariamente simples.

Vasco Palmeirim